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24/06/2020
Nilton Santos e os 70 anos do Maracanã


Nilton Santos com o time campeão em 1962 - Foto de autor desonhecido


Um estádio gigante, imponente. Com capacidade de quase 200 mil torcedores, quando inaugurado na Copa de 1950, de orgulho virou silêncio, na derrota para o Uruguai por 2 a 1, em 16 de julho daquele ano. Nilton Santos não entrou em campo, mas estava lá (fazia parte do selecionado), abalado e triste como todos os milhões de brasileiros. Assim foi a pedra inicial de uma história com o Estádio Jornalista Mário Filho. Ela foi de baixos e altos momentos. Se essa relação fosse descrita em música, poderíamos dizer, na bela voz alvinegra de Beth Carvalho, que: 

“Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava
Um homem de moral
Não Fica no Chão
Reconhece a queda
E não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima”

E assim, o fez. No septuagenário do Maracanã, lembramos algumas datas históricas, como o primeiro jogo, diante do Bangu, pelo Torneio Início[1]. A recordação não é boa, mas faz parte da História. Na ocasião, em 30 de julho de 1950, Botafogo entrou na segunda fase e encarou o time de Zizinho. Ao final dos 20 minutos (dois tempos de 10 minutos cada, como determinava a competição), o empate em 1 a 1. Nos pênaltis, apenas um cobrador deveria levar a melhor de três. Não era dia de sorte dos alvinegros. Sula acertou três vezes para o Bangu, mas Braguinha perdeu o terceiro do Botafogo.

A maré ruim continuou para Nilton. Agora sim, na primeira partida oficial de 90 minutos, ele e seus colegas do Botafogo perderam para o América por 4 a 2, em 13 de agosto de 1950, pelo Campeonato Carioca. Mas, a primeira vitória do ídolo no Maracanã, não tardou. Ela aconteceu na terceira tentativa, no clássico contra o Vasco, em 8 de outubro. Comemoração alvinegra por um gol simples.

E na seleção? Bem, pela Seleção Carioca (que na época era Distrito Federal), o Maraca permanecia uma pedra no sapato. Ô zica! Em 1952, pelo Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, a primeira disputa de título no estádio. Na final melhor de três contra a seleção paulista, houve o empate inicial por 1 a 1, no Pacaembu, em 1 de junho; depois, São Paulo levou a melhor, ao vencer por 3 a 0, no dia 04 de junho, no Maracanã. A confirmação do título pelos paulistas veio com novo empate de 1 a 1, em 08 de junho, no mesmo Maraca de decepções.

Mas, como diz a composição de Paulo Vanzolini, Nilton Santos nunca ficou no chão, sempre sacudiu a poeira e deu a volta por cima. E Como a Enciclopédia do Futebol acumulou glórias no Botafogo e na Seleção Brasileira, logo começou a domar o espírito do estádio. Em 24 de outubro de 1953, fez o seu primeiro gol no Mário Filho, na incrível vitória alvinegra sobre o Bangu por 6 a 0. Neste jogo, Garrincha estava endiabrado (e quando não?) fez um gol olímpico e um pênalti, de paradinha, no segundo tempo. No reencontro da Seleção Brasileira com o Maracanã, agora sim, sua primeira vez real com a amarelinha, vitória de 1 a 0 sobre o Chile, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, em 14 de março de 1954.

Não demorou muito para vir a primeira volta olímpica. E foi em grande estilo. Botafogo 6 a 2 sobre o Fluminense, no dia 22 de dezembro de 1957. Até hoje, a maior goleada em definição de título do Campeonato Carioca que o Maracanã já viu. Depois dessa, Nilton ainda foi campeão, em 1961 e 1962. O último capítulo dessa história também nos reserva um final feliz. Neste grande palco, Nilton Santos fez sua última partida oficial. No dia 13 de dezembro de 1964, o Botafogo já não tinha mais chances de título, entretanto jogo contra o Flamengo sempre é importante. E naquele dia, quando Nilton decidiu pendurar as chuteiras, o time venceu o rival, eliminando-o também da disputa.

Como toda grande jornada de vida, a Enciclopédia do Futebol teve altos e baixos no Maracanã. Nos últimos anos de sua carreira, foi lá que ele pode viver suas glórias pelo clube. Com essa despedida marcante, podemos imaginar que, no fim das contas, o maior lateral de todos os tempos e o maior estádio do mundo acabaram com um final feliz, para sempre. Fim.


[1] Agradecimento especial ao pesquisador e jornalista Ricardo Linhares pela ajuda na pesquisa.



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