Para a torcida alvinegra e
brasileira, Nilton Santos sempre foi sinônimo de classe, talento, esperteza. Poucos
se lembram que outro vocábulo pode fazer parte do dicionário da Enciclopédia do
Futebol: sacrifício. Não, não estou me referindo aos desafios de sua infância e
juventude. Para exemplificar a afirmação, lembremos um pouco da Libertadores de
1963. Botafogo 2, Alianza de Lima, 1. O dia era 24 de julho. A manchete do matutino
do O Globo seguinte à partida era: “Embora contundido fez o Goal da Vitória. Nilton
Santos ajudou a salvar a noite”.
Segundo a crônica esportiva do periódico,
o time esteve muito abaixo do rendimento que se esperava. O jogo foi de muita
apreensão, de ver o “veteraníssimo Nilton Santos dar lições de esforço, ele que
até se contundir era também o melhor tecnicamente. Machucado, ameaçado de ter
de deixar o gramado, quase implorou para ficar; ficou, deslocou-se para a
extrema esquerda e de lá, onde tantos outros tantas vezes havia falhado,
assinou o tento que marcaria o triunfo botafoguense”.
O gol da vitória deu ao Botafogo
a classificação para enfrentar o Santos na semifinal da Copa Libertadores da
América daquele ano (foi a melhor campanha do clube na competição até hoje). Apesar
do placar, a vitória não foi fácil. Jairzinho abriu o marcador aos 4 minutos,
mas o Botafogo acabou dominado pelo time peruano que conseguiu o empate aos 35
minutos, através de uma cobrança de escanteio. Tenemás fez o gol do Alianza de
Lima.
A virada, somente aos 44 do
segundo tempo, diz o jornal ter vindo de uma triangulação perigosa envolvendo
Arlindo, Roberto e Jairzinho. Vantuil na afobação de salvar, rebateu a bola que
caiu nos pés de Nilton Santos, na extrema esquerda. Com precisão, ele colocou a
bola no fim das redes. Ao avaliar
novamente os melhores em campo, o jornal O Globo destacou Nilton como
“hours concours”.
No Jornal do Brasil
A narrativa de sacrifício também
dá o tom na crônica do Jornal do Brasil do dia 25 de junho de 1963. “O Botafogo
classificou-se ontem à noite (...), graças a um gol nascido do gênio Nilton
Santos, que teve forças para fazê-lo no último minuto, apesar de machucado,
capengando na ponta-esquerda, onde foi acabar a partida depois de ter sido o
melhor jogador da defesa”.
Mais a diante, a matéria do JB
falava da inconsistência alvinegra durante os 90 minutos. Destacou o primeiro
gol de Jairzinho, a quem se referiu como o melhor atacante do Botafogo, mas
apontou a noite ruim de Zagalo e Aírton. No fim dos primeiros 45 minutos, o
jornal fala que o time peruano dava um baile na defesa alvinegra. Até que...
Aos 30 minutos da segunda etapa,
Nilton sentiu a coxa numa tentativa de afastar a bola de Segarra. “Nilton
Santos voltou a campo aos 35 minutos, mas não conseguia andar direito e foi
para a ponta esquerda, indo Zagalo para a sua posição e Arlindo para o meio”. E ali decidiu a partida:
“houve uma jogada na direita com
Jair; Donaire e Mendonza foram no lance e a bola sobrou para a ponta. Nilton
Santos, mesmo capengando, esticou a perna, enganou um adversário e deslocou
Bazán, colocando a bola na rede e marcando o segundo gol do Botafogo. O público
aplaudiu de pé e até Manga deixou o gol para abraçar o jogador”, descreveu o
jornal.
Nilton Santos era assim. Entrega,
compromisso, amor e paixão. Um caldeirão dessa mistura, com uma pitada de
classe e genialidade. Por tudo, uma Enciclopédia do Futebol. Foi neste dia, o
último grito de gol com a sua assinatura. Contudo, continuamos a falar e ouvir sobre seu nome e relembrar mais uma de suas histórias. Nilton Santos é uma lenda viva
para todos aqueles que cultivam a sua memória.
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