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22/07/2020
O último grito de gol


Versão matutina do jornal O Globo de 25 de julho de 1963 - Foto: Reprodução


Para a torcida alvinegra e brasileira, Nilton Santos sempre foi sinônimo de classe, talento, esperteza. Poucos se lembram que outro vocábulo pode fazer parte do dicionário da Enciclopédia do Futebol: sacrifício. Não, não estou me referindo aos desafios de sua infância e juventude. Para exemplificar a afirmação, lembremos um pouco da Libertadores de 1963. Botafogo 2, Alianza de Lima, 1. O dia era 24 de julho. A manchete do matutino do O Globo seguinte à partida era: “Embora contundido fez o Goal da Vitória. Nilton Santos ajudou a salvar a noite”.

Segundo a crônica esportiva do periódico, o time esteve muito abaixo do rendimento que se esperava. O jogo foi de muita apreensão, de ver o “veteraníssimo Nilton Santos dar lições de esforço, ele que até se contundir era também o melhor tecnicamente. Machucado, ameaçado de ter de deixar o gramado, quase implorou para ficar; ficou, deslocou-se para a extrema esquerda e de lá, onde tantos outros tantas vezes havia falhado, assinou o tento que marcaria o triunfo botafoguense”.

O gol da vitória deu ao Botafogo a classificação para enfrentar o Santos na semifinal da Copa Libertadores da América daquele ano (foi a melhor campanha do clube na competição até hoje). Apesar do placar, a vitória não foi fácil. Jairzinho abriu o marcador aos 4 minutos, mas o Botafogo acabou dominado pelo time peruano que conseguiu o empate aos 35 minutos, através de uma cobrança de escanteio. Tenemás fez o gol do Alianza de Lima.

A virada, somente aos 44 do segundo tempo, diz o jornal ter vindo de uma triangulação perigosa envolvendo Arlindo, Roberto e Jairzinho. Vantuil na afobação de salvar, rebateu a bola que caiu nos pés de Nilton Santos, na extrema esquerda. Com precisão, ele colocou a bola no fim das redes.  Ao avaliar novamente os melhores em campo, o jornal O Globo destacou Nilton como “hours concours”.

No Jornal do Brasil

 

 

A narrativa de sacrifício também dá o tom na crônica do Jornal do Brasil do dia 25 de junho de 1963. “O Botafogo classificou-se ontem à noite (...), graças a um gol nascido do gênio Nilton Santos, que teve forças para fazê-lo no último minuto, apesar de machucado, capengando na ponta-esquerda, onde foi acabar a partida depois de ter sido o melhor jogador da defesa”.

Mais a diante, a matéria do JB falava da inconsistência alvinegra durante os 90 minutos. Destacou o primeiro gol de Jairzinho, a quem se referiu como o melhor atacante do Botafogo, mas apontou a noite ruim de Zagalo e Aírton. No fim dos primeiros 45 minutos, o jornal fala que o time peruano dava um baile na defesa alvinegra. Até que...

Aos 30 minutos da segunda etapa, Nilton sentiu a coxa numa tentativa de afastar a bola de Segarra. “Nilton Santos voltou a campo aos 35 minutos, mas não conseguia andar direito e foi para a ponta esquerda, indo Zagalo para a sua posição e Arlindo para o meio”.  E ali decidiu a partida:

“houve uma jogada na direita com Jair; Donaire e Mendonza foram no lance e a bola sobrou para a ponta. Nilton Santos, mesmo capengando, esticou a perna, enganou um adversário e deslocou Bazán, colocando a bola na rede e marcando o segundo gol do Botafogo. O público aplaudiu de pé e até Manga deixou o gol para abraçar o jogador”, descreveu o jornal.

Nilton Santos era assim. Entrega, compromisso, amor e paixão. Um caldeirão dessa mistura, com uma pitada de classe e genialidade. Por tudo, uma Enciclopédia do Futebol. Foi neste dia, o último grito de gol com a sua assinatura. Contudo, continuamos a falar e ouvir sobre seu nome e relembrar mais uma de suas histórias. Nilton Santos é uma lenda viva para todos aqueles que cultivam a sua memória.



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