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05/08/2020
A história por trás do livro


Carlos Eduardo Pereira, Nilton Santos e a Maria Coeli no lançamento do livro - Foto: Arquivo pessoal


Era uma vez um menino que nasceu na Ilha do Governador e gostava muito de jogar bola. Descalço, corria o dia inteiro, parando apenas para comer e dormir. Ele cresceu, virou uma estrela e atraiu para si uma legião de admiradores. Falando assim, resumidamente, fica até sem graça. Por isso mesmo Nilton Santos teve uma grande ideia. Escrever um livro, contando as suas histórias. Como isso aconteceu? Esse capítulo nós contamos e foi mais ou menos assim:

Carlos Eduardo Pereira, ex-presidente do Botafogo (2015-2017), tinha uma adoração pelo Nilton. Seus pais, Hugo e Gloria, também aparecem na dedicatória do Minha Bola Minha Vida. Sócios do clube, o casal frequentava a sede e desfrutava da constelação de craques alvinegros da época. Depois que Nilton mudou-se para Brasília, quem costurou a reaproximação foi um jornalista alvinegro da capital federal.

“A minha aproximação com o Nilton foi através de um amigo em comum: o jornalista Jorge Martins Ferreira, que assinava uma coluna em Brasília, era o “crocodilo”. Ele também era um botafoguense apaixonado. Eu fazia parte de um grupo chamado Botafogo, Força e Renovação e nós trocávamos informações sobre o clube e política. Em uma viagem a Brasília com o Botafogo, Jorge me disse que o Nilton tinha o livro quase pronto, mas não sabia como dar o encaminhamento. Indiquei o Guilherme Zincone, que era um amigo de infância, cuja família era fundadora e proprietária da editora forense”, relembra Carlos Eduardo Pereira, em entrevista por telefone.

Guilherme usou o selo Gryphus e, a partir de então, se empenhou em fazer a ideia sair do papel. Segundo o editor, o trabalho foi feito da seguinte forma: “Nilton contava contos bem organizados por personagens como João Havelange, Garrincha, Carlito Rocha, etc. Ele ia contando várias histórias curiosas e interessantes de cada um desses personagens que ele tinha convivido na seleção e no Botafogo”, disse.

Ele e Nilton se conheceram em um restaurante no aeroporto de Brasília. O jornalista intermediou o encontro. Horas depois, decidiram como fariam o livro. “Nilton disse que não conseguiria contar as histórias de maneira forçada. Então, o Jorge Martins gravava as conversas e passava para eu transcrever. Foram, mais ou menos, quatro meses de gravações na casa de Araruama e dois de edição e produção do livro na gráfica, explicou Zincone.

O fenômeno Nilton Santos

No dia 3 de agosto de 1998, o casarão de General Severiano se enfeitava para a festa. A espera era enorme, mas a Enciclopédia do Futebol extrapolou todas as expectativas possíveis (ver cobertura aqui).

“Foi o maior lançamento de livros que eu já vi na minha vida. O que aconteceu eu considero um fenômeno. O lançamento começou às cinco horas da tarde e o limite era meia noite. A expectativa era de 300 livros. Mas, achava que devíamos levar mil exemplares para o dia. Todos ficaram horrorizados na hora, mas aceitaram. A fila no salão era um caracol que dava voltas, saía lá fora e ia pelo jardim. Eu tinha separado 12 para jornalistas e, por volta das dez horas, os 988 já tinham sido vendidos, foi incrível! Era 1h30 da manhã e tinha gente na fila por um autógrafo”, exalta-se Guilherme Zincone.

O jornalista Ricardo Linhares, que também participou da pesquisa do livro, guarda o dia como um momento muito especial:

“Meu pai (Itamar) foi quem me passou a paixão pelo Botafogo, que transmiti ao meu filho Gustavo. Fazia mais de uma década que ele não ia aos estádios e sair à noite de casa era raríssimo. Preparei um discurso e fui perguntar se não queria ir comigo ao lançamento. Ele me cortou bem no início: “O Nílton Santos vai estar lá?”. Respondi que sim, e ele emendou: “Então eu vou!”. Quando chegou a hora de pegar o autógrafo, Dona Coeli informou ao Nilton que aquele senhor era meu pai. Ele, sempre contido em suas emoções, ficou com a voz embargada e os olhos úmidos ao agradecer por tudo que o ídolo fez pelo Botafogo. O Nilton, talvez por ver alguém próximo de sua idade (meu pai era seis anos mais novo), levantou-se e disse: “Eu que agradeço pelo apoio em todos esses anos que joguei lá”. Eles se cumprimentaram longamente, ambos emocionados”, revelou Linhares.

Pouco tempo depois, a Gryphus fez contato com torcedores alvinegros pelo país e organizou uma excursão de divulgação.  “Quando surgiu a notícia de que ele poderia fazer o lançamento em Belém do Pará, ficaram doidos. Se eu não me engano, a editora não pagou nenhuma estadia, refeição, nada, pois quando sabiam que o Nilton iria, aparecia um botafoguense que bancava e chamava para ficar na casa. Ele era um ídolo mesmo, as pessoas o adoravam”, conta-nos o editor.

O livro foi um sucesso estrondoso da editora, que resolveu apostar em outras biografias de personalidades esportivas nos anos seguintes. De acordo com Zincone, foram vendidos mais de dez mil exemplares no primeiro ano. Em 2014, a Gryphus fez uma nova edição com capa redesenhada.

Naquele dia, eu disse ao Nilton: “Só duas camisas: a do Botafogo e do Brasil, não é?” e ele me respondeu: “Carlinhos, eu sempre me senti muito mais confortável com a camisa do Botafogo”. Alguém que diz uma coisa dessas, é para endeusar, tem que honrar uma pessoa assim, finalizou Carlos Eduardo Pereira.

Para quem ainda não adquiriu a obra Minha Bola Minha Vida, fica a dica. Ela encontra-se à venda na página da editora (ver aqui) e nas principais livrarias do país. Este ainda pode ser um belo presente para o dia dos pais.

 



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