Minha Bola

Jogador de um único time, craque de uma seleção. Estrela do Glorioso, orgulho do Brasil. Assim é Nilton Santos, um dos maiores ídolos do Botafogo e principais craques do futebol mundial. Entitulado “Enciclopédia” pelo seu conhecimento futebolístico, Nilton Santos é ainda hoje lembrado dentro e fora dos gramados.

Magro e esguio, ele mostrava saúde correndo nas peladas do bairro ao lado de amigos. Com Gervásio, Feguinho, Peri, Vilson, Plínio, Sampaio, Cândido, Garzinho e Moacir (primo) criou o “Fumo” time de futebol da garotada. Contra a vontade de seus pais, o futuro craque jogava de ponta esquerda, de pés descalços e bolas de meia que, depois de tanto rateio, finalmente foi substituída por uma de borracha. Seu condicionamento físico era fruto das braçadas do remo, levando pescadores ao trabalho e sustento.

Aos 14 anos, Nilton foi para o Flexeiras Atlético Clube e passou a jogar de chuteiras. Naquele momento, Nilton sentiu-se um jogador de futebol de verdade. Chegar ao Flexeiras era o sonho de seus colegas de infância. Sua felicidade, no entanto, foi interrompida pelas forças do destino. Começou um trabalho de garçom para ajudar na renda familiar, aproximando-se da bola novamente, nove anos depois, em 1945, quando fez parte do time de oficiais da Aeronáutica, no seu período nas Forças Armadas. Nilton era o único soldado no meio dos oficiais, privilégio conquistado pela sua habilidade com a redonda.

Considerado um craque pelos colegas, em 1948, a convite de um sargento tricolor, Nilton foi treinar nas Laranjeiras. Tímido e modesto deu meia volta quando viu Queixada e Rodrigues, dois jogadores da seleção na época. A segunda oportunidade apareceu quando o time de oficiais derrotou o São Cristóvão em um jogo amistoso. O convite para jogar no time da Zona Norte foi recusado graças aos conselhos do Cel. Honório Magalhães, que veio a ser o seu padrinho no futebol. Então, foi levado a General Severiano através do diretor social Bento Ribeiro, tio do Cel. Magalhães. O treinador na época era Zezé Moreira e o presidente Carlito Rocha.

Nilton queria jogar no ataque, mas Carlito percebeu que suas qualidades o tornariam um dos maiores defensores do país e ele estava certo. Sua estréia como profissional foi em 21 de março de 1948 contra o América Mineiro, mas o time perdeu de 2 a 1. Apesar do resultado, Nilton Santos foi considerado pela imprensa esportiva como o melhor jogador da partida e não demorou muito para ganhar a posição de titular, a partir do jogo contra o Canto do Rio, com vitória de 2 a 0. Em seu ano de estréia, conquistou o título Estadual, algo que o Botafogo não fazia desde 1935, e o Sul Americano, no ano seguinte. No Botafogo, seus três primeiros contratos foram de gaveta. Somente em 1950 teve sua carteira assinada como jogador profissional.

Em General Severiano, o lateral atuou por 16 anos. Foram 20 títulos, em 729 jogos com a camisa alvinegra, marcando 11 vezes. As conquistas mais marcantes foram os estaduais de 1957 e o bi-carioca de 1961 e 1962. Seus melhores amigos foram Pirilo, uma espécie de conselheiro, Garrincha (talvez o mais querido), Didi, companheiro de quarto, Amarildo, Caca, Zagalo, Rildo e o presidente Carlito Rocha, segundo ele, o “torcedor dirigente mais botafoguense que ele já conheceu”. Fora do clube, Nilton era fã de Zizinho, e também foi amigo próximo de Belini e Ademir Menezes (Queixada).

Sua desenvoltura e jeito arrojado de jogar no Glorioso o levaram à Seleção Brasileira. Sua primeira convocação foi em 1949 para disputar o Sul Americano, mas só jogou mesmo no segundo tempo na vitória do Brasil sobre a Colômbia por 5 a 0. O treinador era Flavio Costa e ele não gostava muito do estilo do Nilton jogar. Aliás, na Copa de 1950, ele havia sido chamado para ser a sombra de Augusto, que atuava no lado direito. Com muito trato, o craque sempre fazia suas investidas ao ataque, antecipando o estilo do lateral moderno que o futebol mundial consagraria mais tarde. Desse modo, deixava os treinadores inseguros e loucos.

Seu primeiro gol na Seleção Canarinho foi marcado em 1953, na derrota de 2 a 1 para o Paraguai. O mais marcante foi seu segundo gol, contra a Áustria, em 1958. Nilton deixou a defesa, passou por marcadores conduzindo a bola com determinação, deixando o técnico Feola desesperado à beira do gramado. No entanto, o lateral seguiu em frente e fez um golaço. Inesquecível, revolucionário. Com a amarelinha, Nilton Santos fez 82 jogos, marcou 4 gols e conquistou 16 títulos. Em 1998, foi eleito o lateral esquerdo da Seleção Mundial do Século, em Paris.

Nilton era feliz fazendo o que gostava – jogar bola. Por isso não se importava muito com os contratos. Sua consciência sobre a dimensão disso veio quando decidiu parar. Seu último jogo oficial foi contra o Flamengo, em 13 de dezembro de 1964. Como homenagem, o rival reconheceu a importância de Nilton para o futebol nacional e entregou-lhe um troféu gigante. Sua despedida dos gramados em definitivo foi no amistoso contra o Bahia três dias depois.

Seu legado perpetua pela história do esporte, seu talento é reverenciado através de homenagens e sua vida alvinegra é lembrada com carinho pelo clube e fãs botafoguenses. Se para a maioria, jogar futebol representa a chance de se tornar famoso ou “endinheirado”, para o menino humilde de Flexeiras, bairro da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, era apenas o sentido da vida.
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